Pela primeira vez foram realizadas medidas contínuas de concentração de CO2 na água do mar com a utilização de equipamento construído no Brasil. As medições foram realizadas durante o cruzeiro oceanográfico do Programa Prediction and Research moored Array in the Tropical Atlantic (PIRATA), realizado a bordo do NOc. Antares (GNHo), em agosto de 2014. O sistema foi construído pelos pesquisadores do Departamento de Oceanografia da UFPE, Drs. Manoel Flores-Montes e Nathalie Lefèvre, ambos vinculados ao GT3.2 do inctAmbTropic. O princípio do sistema é a detecção de CO2 através de um sensor infravermelho de gás (Licor 7000), uma vez que este gás absorve a radiação infravermelha.
Equipamento de medição de CO2 desenvolvido pelo GT3.2
A determinação da concentração de CO2 na água do mar é realizada colocando-se em contato ar e água do mar, de modo a induzir o equilíbrio do gás entre os dois estágios, obtendo-se assim a concentração de CO2 no meio líquido. O software utilizado, desenvolvido em linguagem Labview, controla a operação do sistema e a gravação dos dados. Ao longo do trajeto do navio os dados do termosal (SST, SSS) são registrados a cada cinco minutos, possibilitando o cálculo da pressão parcial de CO2 (pCO2) ou, mais exatamente, da fugacidade do CO2 (fCO2).
Os resultados obtidos ao longo do meridiano 38oW, entre as latitudes 4oN e 15oN, mostram a distribuição de CO2 na água do mar (azul) e na atmosfera (linha preta tracejada), assim como a temperatura (SST) e a salinidade (SSS) da superfície do mar (figura abaixo). As medidas de fCO2 no oceano encontram-se acima do valor na atmosfera, o que significa que, nesta região, o oceano se comporta como uma fonte de CO2 para a mesma. Entre 6oN e 10oN, a temperatura alta (>29oC) e a diminuição da salinidade (<36) observadas, sugerem a presença e a influência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que induz uma redução de fCO2. Já ao norte da latitude 10oN, a salinidade aumenta e a temperatura diminui, acarretando em valores de fCO2 relativamente constantes de cerca de 400 matm. A construção deste novo sistema de medição contínua de CO2 no oceano é um marco importante para a busca da autonomia tecnológica brasileira neste importante área da ciência, o que certamente irá contribuir para incrementar a obtenção de dados no Atlântico tropical e sul, regiões internacionalmente reconhecidas com carência deste tipo de informação.
Resultados obtidos ao longo do meridiano 38oW, entre as latitudes 4oN e 15oN, mostram a distribuição de CO2 na água do mar (azul) e na atmosfera (linha preta tracejada), assim como a temperatura (SST) e a salinidade (SSS) da superfície do ma.
Atualizado: 27 de ago. de 2020
Os GTs 2.1 Geodiversidade e Biodiversidade dos Substratos Plataformais e 3.2 Ciclos Biogeoquímicos, Fluxo de CO2 e Acidificação do Oceano Atlântico Tropical, publicaram recentemente dois trabalhos em periódicos conceituados, listado abaixo:
Mapa batimétrico mostrando as principais falhas perfis batimétricos e sísmicos: (a) —Coroa das Lavadeiras b—arenitos de praia, c—Campo de dunes subaquosas de Guamaré, d— Coroa Branca, e—Vale Inciso do Açu, f— Vale Inciso do Apodi; (B) Compartimentos batimétricos da platform continental. Principais falhas: 1—Afonso Bezerra; 2—Carnaubais; 3—Macau; 4—Ubarana; 5—Pescada; 6—Shelf Edge Faults; 7—Areia Branca.
Resumo:
The primary objective of this study is to assess the control of faults of the rift and post-rift stages on the shelf morphology of the Potiguar Basin in northeastern Brazil. This aborted rift basin was generated during the opening of the Equatorial Atlantic in the Aptian. The offshore portion of the continental margin consists of a narrow (~ 40 km) and shallow (~ 70 m below present sea-level) continental shelf with a very steep continental slope (1:11). Our dataset encompasses gravity, bathymetric, shallow seismic and structural data. The results indicate that low sedimentation rates during the Quaternary period contributed to the identification of structural controls in pre-Holocene rocks. The key evidence for fault reactivation on the seafloor is the link between coastal and shelf features associated with pre-Cenozoic structures of the Potiguar Basin. During periods of low sea level, the incision of shelf valleys was readjusted longitudinally and transversally due to the structural controls. Shelf gradient breaks are associated with the occurrences of coplanar ESE– WNW-oriented faults, and uplifted and subsided areas occur in between these fault systems. The results indicate a strong correlation between the margin geometry, modern shelf surface, near-surface expression, and the rift-phase faults, which appear to be reactivated in concordance with the present-day margin stress field. We conclude that neotectonics has influenced both the sediment deposition and morphology of the NE Brazilian Equatorial margin during Quaternary times.
Mudança na SST (°C) e PWS (m2/s2) durante 1964–1975 (a) and 1976–2012 (b). Os contornos em magenta indicam 95% do teste de confidência de Mann– Kendall para a SST; apenas os vetores PWS significativos de acordo com 95% do teste de confidência de Mann–Kendall estão plotados.
Resumo:
A homogeneous monthly data set of sea surface temperature (SST) and pseudo wind stress based on in situ observations is used to investigate the climatic trends over the tropical Atlantic during the last five decades (1964–2012). After a decrease of SST by about 1 °C during 1964–1975, most apparent in the northern tropical region, the entire tropical basin warmed up. That warming was the most substantial ([1 °C) in the eastern tropical ocean and in the longitudinal band of the intertropical convergence zone. Surprisingly, the trade wind system also strengthened over the period 1964–2012. Complementary information extracted from other observational data sources confirms the simultaneity of SST warming and the strengthening of the surface winds. Examining data sets of surface heat flux during the last few decades for the same region, we find that the SST warming was not a consequence of atmospheric heat flux forcing. Conversely, we suggest that long- term SST warming drives changes in atmosphere parameters at the sea surface, most notably an increase in latent heat flux, and that an acceleration of the hydrological cycle induces a strengthening of the trade winds and an acceleration of the Hadley circulation. These trends are also accompanied by rising sea levels and upper ocean heat content over similar multi-decadal time scales in the tropical Atlantic. Though more work is needed to fully understand these long term trends, especially what happens from the mid-1970’s, it is likely that changes in ocean circulation involving some combination of the Atlantic meridional overtuning circulation and the subtropical cells are required to explain the observations.
Prof. Moacyr Araújo, coordenador do GT3.2 nas instalações da NKE Eletronics – França
O inctAmbTropic recebeu na semana passada os 03 sensores CARIOCA, encomendados junto à NKE Eletronics – França. O sensor CARbon Interface OCean Atmosphere (CARIOCA) pode ser montado em uma bóia fixa ou de deriva. A aquisição foi iniciativa do GT3.2 – Ciclos Biogeoquímicos, Fluxo de CO2 e Acidificação do Oceano Atlântico Tropical do inctAmbTropic.
Sensor CARIOCA
Os sensores/bóias adquiridos serão fundeados nas proximidades do Atol das Rocas e dos arquipélagos de Fernando de Noronha e São Pedro e São Paulo. Além da determinação da pressão parcial do CO2 (pCO2) dissolvido na água do mar, as bóias que serão fundeadas pelo inctAmbTropic registram ainda a temperatura, salinidade, e concentração de oxigênio dissolvido. Os valores de pCO2 na água do mar são determinados por colorimetria, utilizando um espectrofotômetro com uma precisão de mais ou menos 3 µatm. Este conjunto de dados permite quantificar as trocas de CO2 entre o oceano e a atmosfera. Os sensores possuem uma autonomia de um ano, com medições a cada hora. Os dados são armazenados e enviados através do sistema GTS-ARGOS, que também mantem o controle de seu posicionamento. No Atlântico Sul existem em funcionamento contínuo apenas dois sensores CARIOCA, instalados em bóias ATLAS do Projeto PIRATA.
Locais onde serão instalados os sensores CARIOCA: Atol das Rocas, Fernando de Noronha e Arquipélago São Pedro/São Paulo